domingo, novembro 12, 2006

O início

José de Souza veio passar as férias na casa de sua tia em São Paulo, em 1964. Nesta época trabalhava na contabilidade de uma fazenda, em Guararapes.

Gostou de São Paulo e passou a procurar um emprego, quando se deparou com um anúncio de uma vaga para auxiliar de expedição e exigia que o candidato fosse "exímio datilógrafo". Como já tinha muita prática com a máquina de escrever, e acostumado a trabalhar em fazenda, antes das sete da manhã já estava na porta da empresa. Souza lembra até hoje o endereço: "Avenida do Estado, 5315".

Estava na porta quando chegou uma pessoa e perguntou se era candidato a vaga de auxiliar. Respondeu que sim e então esta pessoa tirou o molho de chaves da cintura e o entregou e disse: "rapaz, o escritório fica ali em cima. Abra o escritório que já vou subir". Esta pessoa era o gerente da empresa, Sr. José Caliendo.

Souza abriu o escritório e em seguida chegou João de Brum e o perguntou se era o candidato e pediu para que fizesse o teste que era copiar na máquina de escrever por cinco minutos alguma matéria do jornal "O Estado de São Paulo". Pegou uma folha, colocou na máquina e começou a copiar num ritmo frenético. João de Brum fez sinal para parar e disse: "garoto você é bom demais".

Quando Sr. José Caliendo entrou no escritório e perguntou a João como fora o teste, este respondeu que o candidato era bom demais e por ele estava contratado. Caliendo perguntou a Souza quanto queria ganhar. Disse um valor razoável, informação lhe passada pela tia e, então Sr. José perguntou se poderia começar imediatamente, respondendo que sim.

E assim, Souza iniciou sua carreira na Forest, uma transportadora conhecida pela sua rapidez e confiança em transportar cargas. Nesta época a empresa tinha unidades em Porto Alegre, Novo Hamburgo, Pelotas, Rio Grande e muito tempo depois, Curitiba. A empresa foi fundada pela família Forest, de origem italiana.

Voltou a Guararapes para pegar suas coisas e pedir demissão do emprego. Disseram que em menos de trinta dias estaria de volta, mas isto não ocorreu e continua em São Paulo e, trabalhando até hoje.

Ficou morando com a tia por quinze dias e depois passou a morar numa pensão próxima a empresa, e nelas ficavam seus companheiros de trabalho, João de Brum e um sobrinho do Sr. Forest. Souza conta rindo que pegar ônibus por quinze dias foi o suficiente.

E desempenhou bem sua função que em três meses tornou-se chefe do escritório e, em um ano já era gerente. E nestas duas mudanças de cargo, recebeu substancial aumento de salário. E na Forest, todos os dias existiam enormes desafios, de fazer com que o armazém ficasse limpo, com todas as mercadorias entregues. Sr. José Caliendo era uma pessoa exigente e primava pelo profisionalismo. Dedicava a maior parte de seu tempo a empresa e, estava sempre preocupado e criar novas maneiras da mercadoria ser entregue com maior rapidez e segurança na casa do cliente. Praticava a transparência, sempre dizendo ao cliente o que ocorria e tanto que no conhecimento da empresa tinha a seguinte frase: "Verifique nosso prazo de entrega". Cumpria o que prometia e ainda pedia ao cliente para confirmar.

Souza passou a acompanhar Sr. José Caliendo nos jogos de várzea na Pompéia, onde jogava Lourenço Diaféria, jornalista e escritor. Iam à missa nos domingos pela manhã e depois passavam na empresa para ver se tinha alguma coisa para ser feita, participava das festas de aniversário de suas filhas. Além do profissional, tornaram-se grandes amigos.

A Forest procurava sempre estar na dianteira, usando veículos melhores e métodos inovadores. Certa vez, caiu uma ponte no estado de Santa Catarina. O exército recuperou rapidamente a ponte, mas poderia passar somente ônibus. Os caminhões tinham que fazer um desvio por uma região difícil de tráfego. Souza lembra que saiu na imprensa da época uma reportagem em que a Forest foi a única empresa que conseguiu chegar com as cargas em São Paulo, em tempo hábil. Quando surgiu os jatos, o Sr. Forest criou o nome "Forjato" e um dos lemas da empresa: "Viajei Forest cheguei bem". A empresa com todas as dificuldades da época, fazia o trecho de São Paulo-Porto Alegre com o prazo de 18 horas e atendia principalmente, a indústria automobilística. O sr. Forest gostava de velocidade e participava de corridas, no autódromo de Interlagos e, por este motivo tinha carros possantes. Palmeirense fanático, sempre convidava os funcionários para assistir os jogos de seu time no final de semana. Sr. José Caliendo no entanto, era corintiano. Tanto que Souza lembra que andava com dois cartões. Um da empresa e outro do Corinthians, benzido pelo Dom Paulo Evaristo Arns, outro corintiano roxo.

As comunicações naqueles anos 60 eram bastante precárias. Tanto que para conseguir um telefonema para Porto Alegre levava dias. E então, usavam para comunicar os embarques, os telegramas da Western Union. E Sr.Forest, José Caliendo e Souza criaram um método para transmitir o máximo de informações possíveis, com o menor custo. Souza exemplifica:

101M597 102D498 TM597 TD597

O que significa isto? No primeiro caso: o caminhão da frota número 101 com carga de miudezas chegará no dia 05 de setembro às 07:00hs – no segundo: o caminhão da frota número 102 com carga direta chegará no dia 04 de setembro às 08:00hs – o terceiro: caminhão de terceiro com miudezas chegará no dia 05 de setembro às 07:00hs – e o quarto: caminhão de terceiro com carga direta chegará no dia 05 de setembro às 07:00hs.

Desenvolveram técnicas também para conferir os cálculos dos conhecimentos, manifestos e faturas. E eram eficientes, visto que o quantidade de erros era mínima.

Por volta de 1967, o Coronel Américo Fontenelle causou polêmica ao mudar o fluxo de trânsito na capital paulista. Aconteceram inúmeros protestos e o coronel para implantar suas idéias em vários pontos colocou o exército nas ruas.

O coronel fez uma palestra na auditório da Pirelli no centro de São Paulo para explicar os motivos desta mudança. Sr. José Caliendo convidou Souza para ir e perguntou a este se sabia dirigir o JK, do Sr. Forest. Souza respondeu que sim e foram da Av. do Estado até o centro testando a nova rota imposta pelo coronel e no caminho via os soldados armados. Ao chegarem ao centro, naquela época não existiam estacionamentos e o jeito foi deixar o carro na rua. E descobriram que não conseguiam fechar o carro. Resolveram deixar o carro na rua aberto e ir assistir a palestra. Ao voltarem o carro estava do mesmo jeito que haviam deixado. Bons tempos aqueles, onde havia segurança.

A Forest acabou sendo vendida para o grupo Calçadas que possuia muitos outros negócios como seguradora, revenda de veículos, etc. Com isto, vieram diretores, gerentes e o entusiasmo do grupo perdeu o fôlego.

Moraes trabalhou com o grupo por uns 90 dias e saiu, indo para a empresa Rodovia Dom Vital. Em seguida levou todo o grupo. Alfeu, o último a sair.

O nome mudado de Rodovia Dom Vital para Ultra Rápido Dom Vital e onde este grupo: Moraes, José Caliendo, Souza e Alfeu transformaram esta empresa em uma das maiores no transporte rodoviário de carga do país.

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